segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Europa: gentileza gera gentileza no trânsito.

Olá pessoal, boa noite
Segue o post da semana:
 
Após 7 meses de pedal e quase 9 mil quilômetros rodados por 9 países europeus, agora de volta ao Brasil é chegada a hora de fazer aquele “resumão” da viagem e tentar compartilhar as impressões gerais que tive nesse período, principalmente no que tange a mobilidade humana.

O simples fato de poder atravessar boa parte da Europa ocidental utilizando apenas a bicicleta já diz muita coisa, mas ficar só nisso seria manter uma discussão muito superficial. Não poderia seguir com este texto sem tentar entender o que realmente possibilita que uma pequena formiga como eu consiga se deslocar sozinho tão facilmente por tamanha distância, em um ambiente estranho e cultura extremamente diversa da nossa, com diferenças linguísticas, no relevo e no clima, com uma moeda supervalorizada em relação ao real, entre tantas outras novidades.

Já nos primeiros quilômetros, pedalados em território holandês, comecei a acreditar que a infraestrutura cicloviária era o principal fator que levava aquela região a ter uma cultura ciclística tão forte. Em algumas partes do país, novos loteamentos estão sendo construídos onde antes era o mar, uma prática comum na Holanda há muitas décadas, e o que se vê muitas vezes é a implementação de ciclovias e calçadas antes mesmo da pavimentação das ruas. Claro que não é assim em toda parte, mas esse exemplo só poderia existir em uma sociedade que entende a importância do pedestre e do ciclista em sua dinâmica.

Com o tempo e as distâncias percorridas, comecei a notar a forte presença dos trens, dos VLTs, de uma infinidade de canais navegáveis e de uma rede de ciclorrotas capaz de me conduzir por muitos quilômetros de bicicleta, sem me fazer gastar nenhum centavo para isso.

Aos poucos minha euforia com relação à estrutura cicloviária do país foi passando e eu já podia enxergar o óbvio: a bicicleta era apenas um dos modais, que assim como os outros, dotada de ótima infraestrutura e grande demanda por parte dos cidadãos. Então comecei a entender que o buraco era mais embaixo, ou seja, não é apenas a bicicleta que é levada a sério, mas o transporte como um todo, seja ele coletivo ou individual, público ou privado.

Em poucos dias de pedal já entrava na Alemanha e mesmo após cruzar a fronteira, o impacto não foi muito grande. Claro que a língua mudou, assim como mudou a arquitetura, os produtos nas prateleiras do supermercado entre tantas outras coisas, mas o conforto e a segurança ao pedalar, continuaram em alto nível. Entrei no novo país pela região chamada Renânia do Norte-Vestfália (Nordrhein-Westfalen), passando pela Baixa-Saxônia (Niedersachsen), Bremen (Bremen), Hamburgo (Hamburg),
Fiz boa parte dos deslocamentos neste país por pequenas estradas cortando fazendas, compartilhadas entre tratores e bicicletas, sempre muito bem sinalizadas. Algumas vezes cheguei a pegar estradas de rodagem, junto com carros de passeio, traillers, ônibus e caminhões com limite de velocidade de 60, 70 ou 80 km/h, permitidas para ciclistas, de vez em quando sem acostamento. Assim mesmo a viagem era tranquila, os motoristas respeitam demais os ciclistas e em nenhum momento me senti ameaçado. Assim foi também na República Tcheca e antes mesmo de entrar na Áustria estava tudo mais claro: nos países por onde pedalara, os motoristas não são apenas condutores que respeitam os ciclistas e outros condutores, mas pessoas que respeitam pessoas. Ouvi da boca de moradores das cidades pelas quais passei até ali que no trânsito eles jamais tomam atitudes que possam colocar outros indivíduos em risco.

Concomitante ao comportamento mais gentil no trânsito, notei uma presença muito grande de crianças, idosos e cadeirantes nas ruas, calçadas, no comércio e praças, ora sozinhos, ora acompanhados, mas sempre em condições de acessar equipamentos públicos sem depender de ninguém. Então ficou claro que a gentileza no trânsito e a infraestrutura que estes países construíram só foram possíveis com o respeito ao indivíduo e suas necessidades, e não apenas iniciativas voltadas a um pequeno grupo, mas para o maior número possível de pessoas. Assim eu consegui entender que a Educação no Trânsito que estava vendo agora não era resultado de uma cartilha bem elaborada, campanhas de conscientização ou um sistema de avaliação absurdo para conseguir uma habilitação, e sim do comportamento dos indivíduos com relação aos outros e ao espaço que estão inseridos, neste caso as ruas.

Poderia me alongar muito na discussão da valorização da vida, do respeito ao próximo e da fundamental importância que estes fatores têm na dinâmica de qualquer cidade, mas certamente este é um assunto que merece muito mais reflexão. Agora sei que estas são as premissas básicas para a construção de um ambiente coletivo, sem as quais não existe infraestrutura capaz de suprir sua deficiência, e lamento que muitos aqui no Brasil ainda não tenham percebido isso. Nesse sentido é quase impossível fazer uma comparação de cidades europeias com os centros urbanos brasileiros, já que não partimos das mesmas premissas; e banana se compara com banana, laranja com laranja. Mas se não podemos comparar as cidades brasileiras com as europeias, que tal colocarmos em foco o nosso comportamento, principalmente quando dividimos com outros o espaço, seja ele público ou privado?

É a partir desse conceito que entendi a ocupação do espaço público e a mobilidade humana nestes meses de viagem. Em maior ou menor escala o compartilhamento das vias, o respeito aos pedestres e outros pontos fundamentais na construção de uma sociedade inclusiva se repetiam também na Áustria, Suíça, França. Espanha, Itália e Portugal, embora um pouco menos nestes dois últimos países. A idéia de um espaço construído para atender às necessidades das pessoas e o entendimento da coisa pública como algo de todos explica, pelo menos em parte, o sucesso de cada um dos modelos de transporte público, que não deve ser medido exclusivamente pela redução do tempo de deslocamento, como vemos muitas vezes por aqui.

Atravessei a Áustria e entrei pelo sul da Alemanha, seguindo o rio Danúbio, passando por Munique e chegando ao Bodensee, onde cheguei na Suíça. O nível de organização suíço, considerando a infraestrutura e a sinalização, não tinham precedentes nesta viagem até o momento. Engraçado viajar por um país tão pequeno com um território super fragmentado, onde em uma parte se fala alemão, na outra o italiano, além do francês e uma pequena faixa onde se fala o romanche. Assim mesmo o país tem uma unidade muito forte, especialmente no que respeita ao transporte e à qualidade de vida. Depois disso entrei na Itália e logo me sentia como se estivesse muito próximo do Brasil, sensação que se repetiria em Portugal. Tanto os italianos quanto os portugueses são extremamente apressados e salvo alguma exceção, são tão imprudentes no trânsito como nós, brasileiros.

Poderia dizer que este é um comportamento típico dos povos de origem latina, mas seria uma injsutiça com a França e a Espanha, que não oferecem as mesmas condições para pedalar do que a Holanda, Suíça e Alemanha, por exemplo, mas ainda assim estão anos luz à frente de Portugal e Itália. A França não chega a ser completamente ciclável, mas o povo francês é respeitoso, principalmente no que se refere às liberdades individuais e aos direitos humanos. O respeito ao próximo é onipresente, ou se existe algum tipo de preconceito ele é bem disfarçado. Fato é que passei pelas regiões do Vale do Jura, Borgonha, Ile de France, Central, Pays de la Loire, Poitou Charentes, Aquitânia, Midi-Pirineus e Languedoc Roussilon e além de pedalar bons trechos por ciclovias ou rotas ao longo de rios e canais, quando tive que pegar estradas não encontrei nenhum problema. Em menor escala, isso aconteceu também na Espanha, onde passei pela Catalunha, Aragón, La Rioja, Castilla y Leon e finalmente a Galícia, antes de chegar em Portugal.

Foi somente quando cheguei à Galícia, onde a língua e os costumes do povo local são muito mais parecidos com os de Portugal do que da Espanha, é que passei a sentir uma certa agressividade no trânsito, o que na minha opinião é mais desgastante do que subir uma montanha dos Alpes ou dos Pirineus. Pedalar em um ambiente onde você se sente ameaçado o tempo todo cansa, gera uma tensão enorme nos braços, nos ombros e nas costas, além da pressão psicológica e do medo. Falo por experiência própria, é mais fácil subir uma grande inclinação quando você está tranquilo e seguro do que pedalar por pequenas elevações sentindo que a qualquer momento alguém vai jogar toneladas de metal em cima de você!

Chegando em Portugal, a sensação é que eu estava mesmo me preparando para voltar ao Brasil. Ainda é mais fácil pegar a estrada de bicicleta em terras lusitanas do que no nosso país tropical, mas assim mesmo não é seguro. Até aquele momento não me lembrava de ouvir buzinas e xingamentos de motoristas que não queriam dividir seu espaço com ciclistas, mas em Portugal eu ouvi. De certa forma me senti um pouco em casa, e sabia que não só por uma questão linguística ou geográfica, mas lá no fundo eu estava mais próximo do Brasil. Seria leviano dizer que nosso comportamento nas ruas é uma herança da colonização, mas qualquer semelhança também não pode ser considerada coincidência. Após todos estes meses viajando sozinho, em contato direto com o ambiente e com as pessoas, tive muito tempo para refletir, e cheguei à conclusão de que se não temos recursos, tecnologia ou infraestrutura capaz de suprir nossas necessidades, podemos pelo menos começar com o mais importante: o respeito ao próximo e o compartilhamento saudável das vias.
 Por: Eduardo de Souza Dias, mais conhecido como Du Dias

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Cidades saudáveis – o exemplo de Londres



Há cerca de dois meses, fui convidada pela Prefeitura de Londres para participar da sétima edição do evento internacional Fit Cities, cuja proposta é discutir com profissionais de diversas áreas – arquitetos, urbanistas, designers e profissionais de saúde pública – os meios de tornar as cidades mais favoráveis à qualidade de vida da população.

O escopo da discussão é a criação de políticas públicas e o planejamento de cidades, de modo que favoreçam a mobilidade urbana e a saúde dos cidadãos. Isso porque muitos projetos arquitetônicos e urbanísticos podem ajudar a prevenir doenças. Como?

Segundo pesquisa realizada por um grupo londrino de saúde pública, o transporte de qualidade, aliado a boas calçadas, podem estimular as pessoas a caminharem para seus destinos de trabalho ou educação, e assim favorecer sua saúde. A redução de doenças do coração foi um dos maiores índices alcançados. Mas estudos recentes já mostraram que alguns fatores de risco ligados ao câncer podem ser prevenidos incorporando à rotina uma hora de caminhada diária.

A União Europeia, por exemplo, tem se utilizado muito do conceito de “Health Inequalities” (desigualdades na saúde). Isso significa que, entre grupos, populações ou indivíduos, existem desigualdades em seu estado de saúde que são injustas e podem ser evitadas. Essas diferenças existem por causa de questões sociais, ambientais e econômicas, que podem ampliar o risco de incidência de algumas doenças em populações mais vulneráveis, por falta de ações de prevenção ou mesmo de oportunidades de acesso aos tratamentos corretos. Ou seja, o fator de risco de determinadas patologias está no próprio meio.

Podemos fazer um paralelo da situação das pessoas com deficiência no Brasil, onde a carência de centros de habilitação e reabilitação, somada à falta de planejamento urbano, fazem com que os brasileiros com alguma deficiência tenham um quadro de saúde mais vulnerável que o da população em geral.

Para atender bem a esse enorme contingente, que hoje corresponde a cerca de 23% da população, é preciso investir em políticas públicas que integrem várias áreas de interesse da população: saúde, trabalho, lazer, educação, cultura. Todas essas políticas públicas se co-relacionam à mobilidade urbana, se levarmos em consideração que para ter acesso a qualquer uma delas, o cidadão precisa, no mínimo, de passeio e transporte público em boas condições de uso. A saúde, a autonomia e a dignidade passeiam, literalmente, pelo direito de ir e vir.

Em Londres, as calçadas são padronizadas, planas e amplas, e contam também com extensas guias rebaixadas que comportam duas ou mais cadeiras de rodas simultaneamente. Para os londrinos, as calçadas são como o “centro da nossa vida diária e econômica”. Por isso, a Prefeitura investiu nos últimos anos cerca de 250 milhões de libras (algo em torno de 800 milhões de reais) para melhorias em 90 ruas principais e estratégicas, além de firmar parcerias com a iniciativa privada e com o comércio local para a revitalização de 600 ruas.

Na Câmara Federal, protocolei um projeto de Lei que altera os dispositivos do Estatuto da Cidade, que dizem respeito às atribuições da União no campo da política urbana. A ideia é incluir, entre as tarefas da esfera federal, por iniciativa própria e em conjunto com os entes federados, a melhoria dos passeios, logradouros públicos e dos equipamentos urbanos de todo o Brasil, criando-se assim, um Plano Nacional de Calçadas.

Para se ter uma ideia, em São Paulo, capital mais importante do País, dos mais de 30 mil km de calçadas, apenas 500 km estão em boas condições de uso. A frota de ônibus da Prefeitura conta com aproximadamente 15.000 carros. Destes, apenas 8.500 são adaptados para pessoas com deficiência. Em Londres, 100% da frota é acessível à diversidade humana.

Hoje, cerca de 23 milhões de brasileiros possuem mais de 65 anos, o que equivale a 10% de nossa população. O número corresponde a toda  população de Moçambique e Angola. Ou ainda, quatro vezes a população da Croácia e duas vezes a população de Portugal.

Essas mesmas pessoas, que tanto contribuíram para a construção das cidades, são as maiores vitimas de acidentes por quedas nas calçadas. Aliás, queda é considerada acidente de trânsito e hoje representa 15% do total desses incidentes. Quer prova maior de que não investir em mobilidade urbana acarreta custos mais altos para a saúde?

Espaços bem cuidados refletem diretamente na saúde da população, no orçamento público em geral e no cartão postal do nosso País. Esperamos que nos próximos eventos sediados no Brasil, Londres sirva não apenas de exemplo por ter realizado Jogos Olímpicos bem estruturados, mas inspire nossos gestores a ter mais cuidado e respeito com as pessoas.




Por Mara Gabrilli via Blog Mobilize

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Chicago: Uma cidade modelo nos EUA

Olá, boa tarde,
Vamos ao post da semana?
" É gratificante estar em uma cidade que te acolhe maravilhosamente bem. Dá uma liberdade difícil de explicar, mas incrível de sentir.
Saborear toda a arquitetura sem se preocupar se cairá em buracos ou mesmo ter que desviar deles o tempo todo. Saber que ao apertar um botão ou chegar perto as portas se abrem para você entrar em locais para tomar café, almoçar ou jantar, ter banheiro adaptado, elevadores que abrem dos dois lados evitar manobras, rampas em todos os cantos, ir ao mercado, farmácia, lojas e afins sem se preocupar se irá passar pelos corredores, se irá poder olhar, pesquisar e procurar o que precisa confortavelmente.

Encarar a cidade de cabeça erguida porque você faz parte dela, andar de ônibus como se estivesse dentro de seu próprio carro. E o metrô? Acredita que há auxílio para entrar e sair do vagão? É a primeira vez que ando de metrô sozinha, pois eles colocam uma rampa para acessar e deixar o vagão.IMG_3164
Milalá

21
outubro
Publicado por Mila no dia 21 de outubro de 2014

É gratificante estar em uma cidade que te acolhe maravilhosamente bem. Dá uma liberdade difícil de explicar, mas incrível de sentir.
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Saborear toda a arquitetura sem se preocupar se cairá em buracos ou mesmo ter que desviar deles o tempo todo. Saber que ao apertar um botão ou chegar perto as portas se abrem para você entrar em locais para tomar café, almoçar ou jantar, ter banheiro adaptado, elevadores que abrem dos dois lados evitar manobras, rampas em todos os cantos, ir ao mercado, farmácia, lojas e afins sem se preocupar se irá passar pelos corredores, se irá poder olhar, pesquisar e procurar o que precisa confortavelmente.
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Encarar a cidade de cabeça erguida porque você faz parte dela, andar de ônibus como se estivesse dentro de seu próprio carro. E o metrô? Acredita que há auxílio para entrar e sair do vagão? É a primeira vez que ando de metrô sozinha, pois eles colocam uma rampa para acessar e deixar o vagão.
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É, pra gente que não está acostumado com estas coisas, é liberdade, uma felicidade inexplicável. Dá vontade de ficar o tempo todo na rua andando de lá pra cá. Claro que pra quem mora aqui sempre há o que melhorar, mas para quem tá de passagem isto tudo é um sonho e não dá nenhuma vontade de acordar!

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Esperança para a Deficiência.

Olá pessoal, tudo bom?
Ontem assisti a uma matéria no Fantástico sobre célula - tronco. A matéria foi sobre Um homem que ficou paraplégico depois de um acidente e que finalmente tem a chance de realizar seu grande sonho: voltar a andar depois de uma cirurgia ( realizada por um médico polonês!) e alguns meses de tratamento. Para quem ainda não viu ou para quem viu, porém gostaria de rever, segue o link abaixo:
http://g1.globo.com/fantastico/videos/t/edicoes/v/medico-consegue-devolver-sensibilidade-a-paraplegico/3737965/
Assistam e reflitam!
Ótima semana à todos!